domingo, 30 de dezembro de 2012

Eu li: Terapia Intensiva - Nutrição

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O livro Terapia Intensiva - Nutrição de Elias Knobel (2005) tem um formato bem objetivo para consultas rápidas, sendo interessante para um auxílio para a tomada de decisões na prática clínica.


O livro foi editado em 2005, mas tem a maioria das referências anteriores a 2000, o que considero um ponto negativo. Isto influencia em algumas condutas, que hoje sabemos não serem as mais adequadas, como a restrição proteica em pacientes com encefalopatia hepática avançada.
Ele, na verdade, é um manual de condutas dietoterápicas do Hospital Israelita Albert Eistein, visto que grande parte de seus colaboradores são profissionais desta instituição. Logo, muitas coisas estão adaptadas à realidade do hospital.
Não sei se foi o Albert Eistein que criou isto, mas nele consta como tipo de consistência dieta leve. Bom... isso sempre me pareceu uma expressão muito indefinida e vaga, e pensei que tinha saído da imaginação dos médicos... Pois é, agora vi que existe a dieta leve, institucionalizada, como parte do cardápio de um hospital.
Eu vejo as coisas de maneira conservadora, e acredito que não há necessidade desta consistência. Se ela realmente fosse necessária, minha professora de técnica dietética teria me ensinado esta denominação.
Ora, o que o livro quer dizer é que a dieta leve é a dieta pastosa, e a dieta pastosa é uma dieta liquidificada.
Sou contra esta hiperfragmentação de dietas. Isto só serve para que as empresas terceirizadas ganhem mais com diferentes tipos de dietas oferecidas.
Tirando esta parte do livro, ele é livro satisfatório ao que se propõe. Destaco os capítulos de trauma, pacientes queimados e imunonutrição, foram os melhores do livro, na minha opinião.
Para quem trabalha com nutrição clínica no âmbito hospitalar, pode ser uma boa opção de aquisição, por se tratar de uma realidade mais brasileira. Deixa um pouco a desejar na avaliação nutricional, mas pode ser uma consulta viável na terapia nutricional de diferentes patologias.

domingo, 13 de maio de 2012

World Nutrition Rio2012: mobilização

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Depois da plenária, abre-se o leque de opções para a escolha de diversos assuntos no tema da nutrição e saúde coletiva. E a cada dia que passava, ia ficando mais difícil escolher o melhor tema.
"Como tornar efetivas as organizações de interesse público em alimentação e nutrição" foi um simpósio elaborado com o objetivo de repartir experiências interessantes de intervenções dessas organizações nas políticas públicas. 
Kelly Brownell, do Yale Rudd Center For Food Policy and Obesity, realiza uma palestra baseada no conceito de "ciência estratégica". Sabemos que a serventia da pesquisa é a descoberta de inovações e alternativas que proporcionem mudanças positivas na vida das pessoas. No entanto, na vida real, isso é o que menos acontece. Geralmente, os pesquisadores têm como grande objetivo uma publicação científica. Na ciência estratégica, o que se busca é a repercussão e o impacto do que é verificado através das pesquisas. Logo, o resultado de uma pesquisa deve atuar na opinião pública, no governo e na legislação aplicada por ele, na indústria e na imprensa. 
O site da organização é bem legal, possui diversas publicações disponíveis, mas tenho que destacar esta notícia que li aleatoriamente. A notícia comenta que a PepsiCo. efetua desconto de 50 dólares no salário dos funcionários que fumam ou que tem doenças relacionadas à obesidade. Eu acho que a Pepsi não se perguntou primeiramente o que eles produzem e o que eles já descontam na saúde de milhões e milhões de consumidores. 
Aproveitando que achei aqui este tópico, também vou colocar este link que leva ao pledge brasileiro. Pledge é um acordo voluntário de indústria e publicidade que indica restrições na propaganda de determinados produtos nocivos à saúde das pessoas, especialmente das crianças, que são muito influenciadas por estas estratégias e, portanto, as mais prejudicadas. Só que um pledge é algo voluntário, ou seja, não credite que a empresa está cumprindo estes acordos, é pura fachada para se dizer de bom moço, e pra dizer que tem a tal 'responsabilidade social'. 
E o marketing é a lama (ou a alma) do negócio. O site Cereal FACTS observou que as empresas fazem propagandas mais massivas dos produtos com o pior perfil nutricional. Aliás, o site fornece um apanhado muito interessante de informações sobre os diversos cereais que são comercializados nos Estados Unidos, com fichas que discriminam informações nutricionais importantes de serem observadas, tais como teor de açúcares simples e sódio, além de informações sobre propaganda na TV, disponibilidade nos mercados, presença de brinquedos ou associação a imagens nas embalagens desses produtos. Aqui segue um link de um artigo da Pediatrics que foi mostrado na palestra, que fala um pouco dessa escolha das crianças pelos cereais, e o que foi observado é que crianças que consomem cereais com maior conteúdo de açúcar, consomem menos frutas em acompanhamento a este cereal e o consomem em maior quantidade.

Patti Rundall traz como tema a mobilização no tema da nutrição materno-infantil, fortalecendo o incentivo ao aleitamento materno e mostrando os riscos implicados na alimentação artificial. Representando a Rede Internacional de Ação em Alimentação Infantil (IBFAN) e a Baby Milk Action, Patti discute principalmente o interesse comercial que envolve o mercado de fórmulas infantis, encabeçado pela Nestlé.
O leite artificial é divulgado desde 1867 por esta empresa, e desde então várias estratégias foram pensadas para fazer a população acreditar que o leite de vaca em pó é melhor que o leite humano. Antes da crianção dos códigos de comercialização de substitutos do leite materno, a indústria distribuía suas amostras grátis em maternidades (prática muito comum no Brasil até a década de 70), e chegaram a patrocinar clínicas, realizando a separação proposital das mães dos recém nascidos.
A Nestlé ganha 31 bilhões de reais por ano com fórmulas infantis. Assim, fica claro entender quem realmente ganha com a alimentação artificial. Logo, é uma produção muito lucrativa, sendo dez vezes mais caro que o leite em pó convencional.
Vemos que, mesmo com a existência de códigos de limitação do marketing destes produtos, muitos ainda infringem estes acordos. Vejam esta foto de uma propaganda de leite artificial, que diz 'Qual é o melhor leite depois do leite da Kate?' (o cara bolado é o marido da Patti, haha!).
A autorregulamentação, tal como já foi discutido, não é saída viável para este problema, pois não diminui o impacto do marketing sobre o público consumidor. E, infelizmente, temos que suspeitar até daquilo que foi feito para nos proteger: metade dos membros do Codex Alimentarius são representantes de empresas. Então, a que interesse estão atendendo?
A Patti foi uma das grandes figuras desse congresso, com muita atitude e vontade de transmitir este espírito reacionário nos participantes.
Adorei a ideia de boicote à Nestlé, porém, vamos ser sinceros. É difícil fazer boicote a uma empresa que tem diversas submarcas, e que nem sempre está expresso Nestlé como marca principal. É um conglomerado, um monstro que nos engole e que monopoliza nossas escolhas alimentares. Mas é um tema a se refletir...

Graham MaGregor traz a experiência da Ação Mundial sobre Sal e Saúde - WASH (@WASHSALT) no incentivo à redução dos níveis de sódio nos alimentos industrializados através de uma estratégica de redução lenta, de 10% ao ano, que não é percebida pelos consumidores. Para isso, é importante que este monitoramento seja feito independentemente das empresas. Graham traz um dado importante: 5 milhões de investimentos em redução de sal pelo governo tem um impacto de redução de 1 bilhão de gastos em saúde pública. Não há dúvidas que a promoção da saúde é um caminho também para a racionalização dos gastos públicos. Todo gestor sabe disso em teoria, mas são muito poucos os que praticam.

No próximo post, mais informações sobre legislação da propaganda.

domingo, 6 de maio de 2012

World Nutrition Rio2012: desafios

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Iniciando os trabalhos com a plenária de abertura "Desafios do século 21 para a Alimentação e Nutrição em Saúde Coletiva", os palestrantes eram convidados a fazer breves observações sobre o tema, de forma a nos fazer refletir sobre quais aspectos deviam ser observados nos próximos dias de eventos.
Eu nunca vi isso acontecer, um evento ter começo, meio e fim. Na maioria das vezes, eles só tem um conteúdo agregado, e só.
Abordando de forma bem resumida as inserções dos palestrantes, e recorrendo às minhas anotações, vou tentar expressar mais ou menos o que foi discutido. A princípio, já peço desculpas se por um acaso a minha interpretação foi distorcida, espero que isso não ocorra.

Marion Nestle é um exemplo do que quero ser quando crescer. Uma pessoa de fala decidida e cheia de propriedade e, mais do que isso, uma pessoa que leva o ouvinte pra frente, com um discurso encorajador. Foi uma honra conhecê-la através deste congresso.
Ela destacou a relação dicotômica que há entre desnutrição e obesidade no panorama mundial, e o quanto isso está relacionado, em termos de intervenção, ao confrontamento do ambiente, com vista a fortalecer a educação dos indivíduos. Ou seja, oferecer aos cidadãos do mundo um ambiente que propicie e facilite a tomada de decisões e escolhas mais saudáveis. Porém, é importante que o nutricionista, sendo o profissional mais interessado nesta transformação ambiental, tenha em mente que este processo envolve o enfrentamento de forças políticas e empresariais que levam diretamente à disputa de poder. O modelo alimentar vigente no planeta atualmente beneficia muitos bolsos. Tem muita gente ganhando dinheiro com as doenças da nossa população, e elas não estão dispostas a perder esta galinha dos ovos de ouro.
Para saber mais do trabalho da Marion, você pode acessar o twitter dela (@Marionnestle) e também o seu site, clicando aqui.

Reggie Annan traz uma contribuição muito importante para o debate. Representando uma das universidades de Gana, ele traz a vivência de um realidade na qual os desafios são muito mais profundos. Na verdade, a África acaba sendo o depósito de todo o desequilíbrio desse sistema alimentar, onde ainda persistem problemas graves, tais como a relação da desnutrição com a infecção pelo HIV, o que leva a um desfecho muito mais desfavorável da doença. Questões ambientais, econômicas, ambientais, culturais, relações de poder... Enfim.
Há muitas políticas desenvolvidas em nível macro, e muitas propostas feitas ao nível das agências relacionadas às Nações Unidas, porém Reggie destacou a ausência de implementação de políticas locais nos vários países da África. A observação das peculiaridades locais, como todos sabemos, é fundamental para fazer qualquer ideia virar realidade.
A nutrição também não é vista como ciência, na mesma extensão que outras áreas como a medicina, e deste modo não é vista como importância. logo, a prioridade para políticas de alimentação e nutrição fica sempre em segundo plano. Por falar nisso, indico um texto incrível que fala sobre a febre de suplementação de vitamina A em países pobres. A artificialização da alimentos e a mera medicalização dos problemas nutricionais é discutida com propriedade neste artigo intitulado The Great Vitamin A fiasco, de Michael Latham.
Os programas de alimentação e nutrição desenvolvidos na África geralmente são levados a cabo com financiamento externo, que dá uma vulnerabilidade muito grande aos mesmos. Acaba o financiamento, acaba o projeto. Logo, são projetos não sustentáveis. Segundo Reggie, portanto, é importante fortalecer o financiamento interno dos projetos desenvolvidos. Algo complicado se a nutrição não é vista com importância, e se os financiamentos externos sempre dizem respeito a um interesse econômico que está obscuro na ajuda de um determinado órgão público ou privado. Voltando a Vitamina A, não há evidências que comprovem que a suplementação em grande escala alcance redução na morbimortalidade de crianças com menos de 5 anos. No entanto, há evidências de que há investimentos pesados de órgãos públicos de países desenvolvidos e de que uma empresa farmacêutica ganha bilhões de dólares com isso.

Philip James já virou ídolo! Uma das participações mais presentes e expressivas de todo o congresso, com toda a certeza! Abaixo um vídeo dele:



Philip salientou na plenária de abertura, dentre outros temas, a importância da abordagem integrada dos problemas nutricionais, tendo como base a agenda única de nutrição.
A mudança no setor alimentar é mais que necessária, em especial na regulação do marketing, e o que ele citou como neuromarketing, informando que o cérebro mantém-se em formação até os 25 anos. Logo, durante 25 anos somos bombardeados por propagandas que nos implantam diversos pensamentos do que é melhor pra nós. Não há nem para mensurar o perigo envolvido nas consequências dessa dominação consumista.
Além disso, as mudanças climáticas provocam mudanças diretas nos sistemas alimentares, e isto só induz ao um aumento das desigualdades sociais entre os povos.

Renato Maluf é economista, professor da UFRRJ, que se colocou justamente neste papel de ser um palestrante fora da área da saúde, para agregar a sua visão aos problemas nutricionais. Também gostei muito de todas as suas colocações ao longo das palestras em que ele estava participando.
Segundo Renato, a crise alimentar se insere no contexto de uma crise sistêmica envolvendo a atividade econômica, o impacto ambiental e as reservas energéticas. Vivemos hoje uma homogeneização de hábitos, em contraposição à diversidade alimentar. Com ela, perde-se em biodiversidade como um todo.
Como os determinantes de um sistema alimentar são os mais diversos possíveis, atingindo os diversos setores de atuação dos governos, é necessário que qualquer intervenção que busque a segurança alimentar e nutricional, baseada no direito humano à alimentação adequada, seja baseada em ações que busquem a intersetorialidade. Esse é um grande desafio, pois os interesses são os mais diferenciados, dependendo do órgão que está envolvido nesta ou naquela política. Associa-se a isso a ausência ca pital humano preparado para levar este tipo de negociação para a frente. vemos que o nutricionista não sai capacitado para este tipo de diálogo, é um profissional que não se pergunta qual o caminho percorrido pela comida que seus usuários compram no supermercado. Não questionam o modelo econômico como fatos impeditivo do alcance da utópica (opinião minha) da Segurança Alimentar e Nutricional.
Outro desafio é a desigualdade na renda, reconhecida por Maluf como o principal desafio para as políticas de alimentação e nutrição no mundo.
O reconhecimento do sistema alimentar local como o melhor caminho para a conquista de uma economia e abastecimento sustentáveis esbarra no poder político implicado neste processo, associado ao controle das influências externas, em especial das grandes transnacionais, que tem passe livre para entrada nos países em desenvolvimento.

Como visto, a plenária de abertura deu aos ouvintes diversas possibilidades de como aplicar suas reflexões durante os simpósios, debates e plenárias propostas. No próximo post, falo sobre as organizações de interesse público interferindo nas políticas governamentais, com a adorável Patti Rundall, de quem também virei fã! No post, vocês vão entender o porquê!

sábado, 5 de maio de 2012

World Nutrition Rio 2012: Impressões

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Depois de tanto tempo afastada deste blog, volto com boas experiências para compartilhar.
Esses meses foram bastante tensos e com muitas atividades. Foi uma correria tremenda para enfim me formar. Pois é, não sou mais uma pacata estudante carioca, mas sim uma pacata nutricionista carioca! Pensei que este momento geraria em mim certa insegurança quanto a minha preparação, o que é normal em todo recém formado. Porém, por outros motivos que não vou partilhar no momento, todo este processo de se tornar profissional foi envolto por uma maturidade que eu não esperava de mim mesma. Não estou segura da técnica, mas estou segura de que este é o caminho certo, e é isso que basta no momento!
Depois de dez meses de grande ansiedade e expectativa, enfim ele chegou. O World Nutrition Rio 2012 foi o meu presente de aniversário do ano passado, e só agora ele se tornou realidade. Um evento que certamente refletiu a competência de seus organizadores, porque realmente correspondeu ao que esperava. Foi um evento quase que estratégico para a minha vida pessoal e profissional, o ponto que faltava para saber quais caminhos optar nesta vida profissional que começa a se abrir a partir de agora.
Como o evento divulgou diversas informações importantes para o nutricionista atuante e preocupado com as questões de saúde pública, acho importante dividir com os leitores as idéias que foram discutidas, sites e materiais para aprofundar a pesquisa. Acaba sendo uma forma pra que eu retorne a estes assuntos, então todos ganham.
Para os brasileiros, foi um orgulho ter esta edição do World Nutrition na UERJ, uma grande instituição de educação superior localizada no coração da nossa cidade, que já formou muitos nutricionistas de grande competência. Foi muito legal ver num local tão próximo da minha realidade e do meu cotidiano repleto de pessoas de todos os lugares do mundo, falando os mais diferentes idiomas, das mais diferentes áreas de atuação.
Especialmente, para mim, foi até emocionante. Há quatro anos atrás, estava eu nesta mesma universidade num evento promovido pelo IMS, um seminário de Saúde Coletiva. Eu cursava o quarto período da faculdade, e vendo aquelas apresentações de mestrado e doutorado, as pessoas que ajudaram a propor o SUS contando as suas experiências pessoais, eu me sentia burra, completamente burra. No entanto, eu me sentia muito bem, muito privilegiada por ter aquela experiência. Eu lembro que eu pensava: ‘caramba, como tem gente inteligente aqui!!’. Ainda estou em plena construção de saberes e idéias (aliás, todos estamos), porém eu sinto que estava preparada para aproveitar tudo o que foi discutido neste congresso em 2012. Talvez não me sinta tão burrinha como antes.
A grande polêmica levantada pelo congresso, desde a sua concepção, foi a ausência de patrocínio ou apoio advindo de empresas privadas de alimentação com as quais há o óbvio conflito de interesses. As parcerias públicos-privadas (PPPs) foram tratadas em muitos momentos do congresso, mas vou deixar pra discutir o assunto nas próximas postagens.
A plenária de abertura contou com a participação de alguns representantes das instituições envolvidos neste evento. Tenho que destacar a fala do reitor da Uerj, na qual ele comentou que a nutrição ajudava a resgatar um conceito dos gregos chamado ‘temperança’, ou seja, uma busca pelo equilíbrio. E, com isso, ele comentou esta atuação do nutricionista na questão de nos ajudar na relação com o corpo e que, com essa busca pelo equilíbrio, nós auxiliamos as pessoas a se manterem saudáveis e belas. Cabe ressaltar que o reitor é psicólogo.
Também destaco as palavras aguerridas e arretadas do representante da Fiocruz, que infelizmente não pude anotar o nome... Ele foi o primeiro que destacou a importância da ausência de conflitos de interesses no congresso, o que demonstrou completo compromisso com a liberdade de expressão das idéias.
Lembram do que o reitor falou? Pois bem. Eis que chega a hora do representante da Unirio, que infelizmente também não anotei o nome. Só sei que este senhor deu uma bela patada indireta no reitor, ao dizer que as questões da nutrição não se resumiam às questões estéticas, mas principalmente a toda a problemática social envolvida nos temas que permeiam a alimentação.
É, pareceu-me que o reitor não leu o release do congresso... Tsc, tsc.
Foi mais ou menos neste clima que se iniciou o primeiro dia dos trabalhos!
No próximo post, falo sobre a segunda parte de abertura.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Estágio: o caminho das pedras

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Há muitos meses não escrevo neste blog. Talvez porque este me exija mais tempo e dedicação. E quem sabe mais seriedade.
E também porque nestes últimos meses a vida entrou num ritmo mais acelerado e mais focado, digamos assim. Tive que investir meu tempo em questões mais vitais não só para os próximos meses, mas quem sabe para os próximos anos.
Quando se chega na reta final, você deixa muita coisa para trás, mas também incorpora muitas outras em sua prática. E algumas prioridades acabam vindo à tona, e nesse processo o coitado do blog acaba sendo o sacrificado. Não era essa a intenção.
Mas agora, sinto necessidade de retornar a fazer as coisas que gosto que, em meio a milhares de atividades, horas ininterruptas de estudo e milhões de preocupações com o futuro ficaram acabando no esquecimento. E uma das coisas que eu mais gosto de fazer é escrever, compartilhar minhas experiências mais comuns e corriqueiras, como se estivesse conversando comigo mesma, de frente ao espelho. Se alguém me lê ou não, é uma mera consequência...
Uma coisa sobre a qual tenho refletido bastante é sobre o estágio. Esta experiência que todo (ou quase todo) universitário tem que ter para completar a sua carga horária. Antes fosse só isso!
Numa profissão como a nutrição, que te exige no mínimo três estágios, esta não é só uma experiência complementar, mas sim uma parte importante da sua trajetória de vida! Para mim, pelo menos tem esse significa, pois nestes últimos dois anos, foram uns 5 estágios eu acho. Em cada um deles aprende-se algo para complementar o seu conteúdo teórico, e muitas outras coisas sobre vida profissional, no seu sentido mais amplo.
Nos estágios, você convive com os mais diversos tipos de profissionais, e aí você fica se perguntando com qual destes tipos você mais se assemelhar daqui a alguns anos.
Há profissionais fantásticos, que não desistem e insistem, mantém a confiança na sua prática, mesmo que não haja o menor apoio logístico e humano. Mas é nadando contra a maré que nasce a admiração. Admiro imensamente estas nutris queridas que apareceram em minha vida, sendo nutricionistas, educadoras, psicólogas, assistentes sociais, amigas, e quantas funções mais aparecerem!
Há profissionais mais que fantásticos, de um domínio técnico absurdo, de uma competência absoluta na produção de conhecimento e na aplicação desse conhecimento no cuidado aos usuários. Simplesmente maravilhosos estes profissionais, e estes me ensinaram duas coisas: que há gente competente na nutrição (não muitos, vamos combinar), e que eu ainda não sei nada de nutrição. Nada mesmo.
Há profissionais que nos envergonham como estudantes. Não fazem o menor esforço para fazer o mínimo. E sobre eles, o que comentar? Não quero ser como eles.
E é mais ou menos por aí que funciona. Você, como estudante, tem que estar preparado para encontrar as mais diversas realidades e o mais diversos modos que os profissionais encontram para lidar com esta realidade. Afinal, é normal que nós procuremos a teoria na prática, que aquilo que foi tão exaustivamente dado nas aulas finalmente tenha alguma aplicabilidade na sua vida. Senão, pra que me mandaram decorar toda aquela pá de coisas?
No entanto, esqueça a teoria por um momento. Tente depreender o que este mano ou esta mana pode te oferecer de prática, de vivência, de olho clínico. Este é o pulo do gato. Pessoas que não te podem dar este tipo de experiência, esquece! Segue o seu caminho, assovia enquanto ela 'faz o trabalho dela', porque honestamente, em nada te vai acrescentar.
Percebo, especialmente na área de clínica, uma falta generalizada da técnica na prática do nutricionista. Isso não é bom, porque cada profissão tem sua 'caixa preta', aqueles procedimentos que as pessoas olham de longe e veem que não é qualquer pessoa que pode fazer. A nutrição clínica está se esvaziando, está perdendo o seu grande e valioso trunfo, que é a avaliação nutricional. Mas, mesmo assim, há que se valorizar a experiência destes profissionais, que mesmo não seguindo aquela receita de bolo que aprendemos na marra, sabem pela vivência. Coisa que você não tem, cara pálida.
Mas vamos ao lado mais crítico da situação, todo mundo sabe que estagiário é mão de obra muito barata, logo, mais que explorada. Isso é um fato! Em alguns lugares, posso dizer que fiz exatamente as coisas que eram de minha atribuição; em outros, ralei feito filha de uma égua; em alguns, conquistei aos poucos uma segurança e assumi responsabilidades que foram importante para a construção da minha maturidade; e alguns lugares me utilizaram de modo incipiente, e desse modo, aprendi pouco.
Sabe onde reside a diferença entre todos esses saldos positivos e negativos destas experiências de estágio?
É porque existem dois tipos de supervisor:
- aquele que te dá suporte e te incentiva a tomar a inciativa de meter as caras, e deixar a observação e passar a aprender pela ação. Lembro-me da primeira vez que me deram uma prancheta na mão e disseram: "Vai lá". Eu aprendi, eu esqueci, eu errei... Eu amadureci e construí uma segurança na minha conduta. Quando me deixaram sozinha, eu assumi a responsabilidade, porque sabia que tinha respaldo. Nesse caso, a experiência é muito boa e te ensina muito mais que mil aulas teóricas. E eu sempre serei grata por este primeiro empurrão.
- e existe aquele tipo de supervisor que só falta dizer, 'já que você está aqui pra aprender, vai lá e faz o meu trabalho por mim?'. Com este, ou você se sente explorada e o aprendizado vem carregado de insegurança e estresse, ou você não aprende nada, porque também não vai ficar fazendo o trabalho dos outros, não é?
É. Situação complicada. Porque você precisa aprender, mas largar-se por aí fazendo aquilo que te dá na telha sem um suporte pode dar uma merda colossal. Porém, tendo uma boa medida de moderação, também é possível tirar alguma experiência boa nestes casos.
Enfim, o estágio é uma experiência declaradamente necessária à sua formação. Ela vai definir o que você quer ser, na teoria e na prática. E é importante que você não apague estas memórias, estas vivências, porque estas vão ser importantes para definir que profissional você realmente vai ser daqui a dez anos. Tome cuidado para não se tornar, por culpa do comodismo, aquele tipo de profissional que nada pôde te ensinar quando você precisava.