domingo, 13 de maio de 2012

World Nutrition Rio2012: mobilização

Depois da plenária, abre-se o leque de opções para a escolha de diversos assuntos no tema da nutrição e saúde coletiva. E a cada dia que passava, ia ficando mais difícil escolher o melhor tema.
"Como tornar efetivas as organizações de interesse público em alimentação e nutrição" foi um simpósio elaborado com o objetivo de repartir experiências interessantes de intervenções dessas organizações nas políticas públicas. 
Kelly Brownell, do Yale Rudd Center For Food Policy and Obesity, realiza uma palestra baseada no conceito de "ciência estratégica". Sabemos que a serventia da pesquisa é a descoberta de inovações e alternativas que proporcionem mudanças positivas na vida das pessoas. No entanto, na vida real, isso é o que menos acontece. Geralmente, os pesquisadores têm como grande objetivo uma publicação científica. Na ciência estratégica, o que se busca é a repercussão e o impacto do que é verificado através das pesquisas. Logo, o resultado de uma pesquisa deve atuar na opinião pública, no governo e na legislação aplicada por ele, na indústria e na imprensa. 
O site da organização é bem legal, possui diversas publicações disponíveis, mas tenho que destacar esta notícia que li aleatoriamente. A notícia comenta que a PepsiCo. efetua desconto de 50 dólares no salário dos funcionários que fumam ou que tem doenças relacionadas à obesidade. Eu acho que a Pepsi não se perguntou primeiramente o que eles produzem e o que eles já descontam na saúde de milhões e milhões de consumidores. 
Aproveitando que achei aqui este tópico, também vou colocar este link que leva ao pledge brasileiro. Pledge é um acordo voluntário de indústria e publicidade que indica restrições na propaganda de determinados produtos nocivos à saúde das pessoas, especialmente das crianças, que são muito influenciadas por estas estratégias e, portanto, as mais prejudicadas. Só que um pledge é algo voluntário, ou seja, não credite que a empresa está cumprindo estes acordos, é pura fachada para se dizer de bom moço, e pra dizer que tem a tal 'responsabilidade social'. 
E o marketing é a lama (ou a alma) do negócio. O site Cereal FACTS observou que as empresas fazem propagandas mais massivas dos produtos com o pior perfil nutricional. Aliás, o site fornece um apanhado muito interessante de informações sobre os diversos cereais que são comercializados nos Estados Unidos, com fichas que discriminam informações nutricionais importantes de serem observadas, tais como teor de açúcares simples e sódio, além de informações sobre propaganda na TV, disponibilidade nos mercados, presença de brinquedos ou associação a imagens nas embalagens desses produtos. Aqui segue um link de um artigo da Pediatrics que foi mostrado na palestra, que fala um pouco dessa escolha das crianças pelos cereais, e o que foi observado é que crianças que consomem cereais com maior conteúdo de açúcar, consomem menos frutas em acompanhamento a este cereal e o consomem em maior quantidade.

Patti Rundall traz como tema a mobilização no tema da nutrição materno-infantil, fortalecendo o incentivo ao aleitamento materno e mostrando os riscos implicados na alimentação artificial. Representando a Rede Internacional de Ação em Alimentação Infantil (IBFAN) e a Baby Milk Action, Patti discute principalmente o interesse comercial que envolve o mercado de fórmulas infantis, encabeçado pela Nestlé.
O leite artificial é divulgado desde 1867 por esta empresa, e desde então várias estratégias foram pensadas para fazer a população acreditar que o leite de vaca em pó é melhor que o leite humano. Antes da crianção dos códigos de comercialização de substitutos do leite materno, a indústria distribuía suas amostras grátis em maternidades (prática muito comum no Brasil até a década de 70), e chegaram a patrocinar clínicas, realizando a separação proposital das mães dos recém nascidos.
A Nestlé ganha 31 bilhões de reais por ano com fórmulas infantis. Assim, fica claro entender quem realmente ganha com a alimentação artificial. Logo, é uma produção muito lucrativa, sendo dez vezes mais caro que o leite em pó convencional.
Vemos que, mesmo com a existência de códigos de limitação do marketing destes produtos, muitos ainda infringem estes acordos. Vejam esta foto de uma propaganda de leite artificial, que diz 'Qual é o melhor leite depois do leite da Kate?' (o cara bolado é o marido da Patti, haha!).
A autorregulamentação, tal como já foi discutido, não é saída viável para este problema, pois não diminui o impacto do marketing sobre o público consumidor. E, infelizmente, temos que suspeitar até daquilo que foi feito para nos proteger: metade dos membros do Codex Alimentarius são representantes de empresas. Então, a que interesse estão atendendo?
A Patti foi uma das grandes figuras desse congresso, com muita atitude e vontade de transmitir este espírito reacionário nos participantes.
Adorei a ideia de boicote à Nestlé, porém, vamos ser sinceros. É difícil fazer boicote a uma empresa que tem diversas submarcas, e que nem sempre está expresso Nestlé como marca principal. É um conglomerado, um monstro que nos engole e que monopoliza nossas escolhas alimentares. Mas é um tema a se refletir...

Graham MaGregor traz a experiência da Ação Mundial sobre Sal e Saúde - WASH (@WASHSALT) no incentivo à redução dos níveis de sódio nos alimentos industrializados através de uma estratégica de redução lenta, de 10% ao ano, que não é percebida pelos consumidores. Para isso, é importante que este monitoramento seja feito independentemente das empresas. Graham traz um dado importante: 5 milhões de investimentos em redução de sal pelo governo tem um impacto de redução de 1 bilhão de gastos em saúde pública. Não há dúvidas que a promoção da saúde é um caminho também para a racionalização dos gastos públicos. Todo gestor sabe disso em teoria, mas são muito poucos os que praticam.

No próximo post, mais informações sobre legislação da propaganda.

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