domingo, 29 de janeiro de 2012

Estágio: o caminho das pedras


Há muitos meses não escrevo neste blog. Talvez porque este me exija mais tempo e dedicação. E quem sabe mais seriedade.
E também porque nestes últimos meses a vida entrou num ritmo mais acelerado e mais focado, digamos assim. Tive que investir meu tempo em questões mais vitais não só para os próximos meses, mas quem sabe para os próximos anos.
Quando se chega na reta final, você deixa muita coisa para trás, mas também incorpora muitas outras em sua prática. E algumas prioridades acabam vindo à tona, e nesse processo o coitado do blog acaba sendo o sacrificado. Não era essa a intenção.
Mas agora, sinto necessidade de retornar a fazer as coisas que gosto que, em meio a milhares de atividades, horas ininterruptas de estudo e milhões de preocupações com o futuro ficaram acabando no esquecimento. E uma das coisas que eu mais gosto de fazer é escrever, compartilhar minhas experiências mais comuns e corriqueiras, como se estivesse conversando comigo mesma, de frente ao espelho. Se alguém me lê ou não, é uma mera consequência...
Uma coisa sobre a qual tenho refletido bastante é sobre o estágio. Esta experiência que todo (ou quase todo) universitário tem que ter para completar a sua carga horária. Antes fosse só isso!
Numa profissão como a nutrição, que te exige no mínimo três estágios, esta não é só uma experiência complementar, mas sim uma parte importante da sua trajetória de vida! Para mim, pelo menos tem esse significa, pois nestes últimos dois anos, foram uns 5 estágios eu acho. Em cada um deles aprende-se algo para complementar o seu conteúdo teórico, e muitas outras coisas sobre vida profissional, no seu sentido mais amplo.
Nos estágios, você convive com os mais diversos tipos de profissionais, e aí você fica se perguntando com qual destes tipos você mais se assemelhar daqui a alguns anos.
Há profissionais fantásticos, que não desistem e insistem, mantém a confiança na sua prática, mesmo que não haja o menor apoio logístico e humano. Mas é nadando contra a maré que nasce a admiração. Admiro imensamente estas nutris queridas que apareceram em minha vida, sendo nutricionistas, educadoras, psicólogas, assistentes sociais, amigas, e quantas funções mais aparecerem!
Há profissionais mais que fantásticos, de um domínio técnico absurdo, de uma competência absoluta na produção de conhecimento e na aplicação desse conhecimento no cuidado aos usuários. Simplesmente maravilhosos estes profissionais, e estes me ensinaram duas coisas: que há gente competente na nutrição (não muitos, vamos combinar), e que eu ainda não sei nada de nutrição. Nada mesmo.
Há profissionais que nos envergonham como estudantes. Não fazem o menor esforço para fazer o mínimo. E sobre eles, o que comentar? Não quero ser como eles.
E é mais ou menos por aí que funciona. Você, como estudante, tem que estar preparado para encontrar as mais diversas realidades e o mais diversos modos que os profissionais encontram para lidar com esta realidade. Afinal, é normal que nós procuremos a teoria na prática, que aquilo que foi tão exaustivamente dado nas aulas finalmente tenha alguma aplicabilidade na sua vida. Senão, pra que me mandaram decorar toda aquela pá de coisas?
No entanto, esqueça a teoria por um momento. Tente depreender o que este mano ou esta mana pode te oferecer de prática, de vivência, de olho clínico. Este é o pulo do gato. Pessoas que não te podem dar este tipo de experiência, esquece! Segue o seu caminho, assovia enquanto ela 'faz o trabalho dela', porque honestamente, em nada te vai acrescentar.
Percebo, especialmente na área de clínica, uma falta generalizada da técnica na prática do nutricionista. Isso não é bom, porque cada profissão tem sua 'caixa preta', aqueles procedimentos que as pessoas olham de longe e veem que não é qualquer pessoa que pode fazer. A nutrição clínica está se esvaziando, está perdendo o seu grande e valioso trunfo, que é a avaliação nutricional. Mas, mesmo assim, há que se valorizar a experiência destes profissionais, que mesmo não seguindo aquela receita de bolo que aprendemos na marra, sabem pela vivência. Coisa que você não tem, cara pálida.
Mas vamos ao lado mais crítico da situação, todo mundo sabe que estagiário é mão de obra muito barata, logo, mais que explorada. Isso é um fato! Em alguns lugares, posso dizer que fiz exatamente as coisas que eram de minha atribuição; em outros, ralei feito filha de uma égua; em alguns, conquistei aos poucos uma segurança e assumi responsabilidades que foram importante para a construção da minha maturidade; e alguns lugares me utilizaram de modo incipiente, e desse modo, aprendi pouco.
Sabe onde reside a diferença entre todos esses saldos positivos e negativos destas experiências de estágio?
É porque existem dois tipos de supervisor:
- aquele que te dá suporte e te incentiva a tomar a inciativa de meter as caras, e deixar a observação e passar a aprender pela ação. Lembro-me da primeira vez que me deram uma prancheta na mão e disseram: "Vai lá". Eu aprendi, eu esqueci, eu errei... Eu amadureci e construí uma segurança na minha conduta. Quando me deixaram sozinha, eu assumi a responsabilidade, porque sabia que tinha respaldo. Nesse caso, a experiência é muito boa e te ensina muito mais que mil aulas teóricas. E eu sempre serei grata por este primeiro empurrão.
- e existe aquele tipo de supervisor que só falta dizer, 'já que você está aqui pra aprender, vai lá e faz o meu trabalho por mim?'. Com este, ou você se sente explorada e o aprendizado vem carregado de insegurança e estresse, ou você não aprende nada, porque também não vai ficar fazendo o trabalho dos outros, não é?
É. Situação complicada. Porque você precisa aprender, mas largar-se por aí fazendo aquilo que te dá na telha sem um suporte pode dar uma merda colossal. Porém, tendo uma boa medida de moderação, também é possível tirar alguma experiência boa nestes casos.
Enfim, o estágio é uma experiência declaradamente necessária à sua formação. Ela vai definir o que você quer ser, na teoria e na prática. E é importante que você não apague estas memórias, estas vivências, porque estas vão ser importantes para definir que profissional você realmente vai ser daqui a dez anos. Tome cuidado para não se tornar, por culpa do comodismo, aquele tipo de profissional que nada pôde te ensinar quando você precisava.

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