sábado, 30 de julho de 2011

Uma barra de cereal tem 100 kcal. E só.

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O ritmo anda frenético. Mil estágios, mil projetos, mil sonhos, mil objetivos.
No meio de tantas expectativas, venho encontrando motivos pra encontrar que há sempre uma saída para se chegar ao ápice da realização profissional: fazer aquilo que realmente você ama e acredita.
Conhecer a trajetória de profissionais que eu admiro, e o esforço inacreditável que eles fizeram para alcançar seus objetivos, são uma inesgotável fonte de inspiração. Se eles conseguiram fazer o impossível, eu também vou conseguir.

Uma querida amiga veio ao Rio de Janeiro por compromissos de trabalho, e quem diria que esse curto encontro renderia tantas coisas boas. Como eu disse pra ela e repito aqui, a conquista que ela obteve é também uma grande motivação pra mim.
Existem mercados e profissões que passam por restrições e diversas questões complicadoras. Amar a nutrição e querer atuar em saúde pública é um grande problema, já que o emprego só aparece na produção. Nada contra a produção, mas pra mim é um local de produção intelectual e simbólica muito rasa... Infelizmente. Acho que as pessoas passam tempo demais em cozinha, muitas vezes sem ver a luz do Sol, e esquecem que há coisas muito mais importantes na vida que um alimento vencido. Esse tipo de mediocridade suga minha energia, e honestamente, se tiver que trabalhar nessa área, que não passe de um ano. Um período maior que esse, em uma área que não é da minha vocação, é perda de tempo vital, literalmente.

Voltando à minha amiga, fiquei feliz porque ela conseguiu se inserir no mercado de trabalho em uma área que poucos profissionais da sua área conseguem. No meio das fofocas de sempre, das atualizações, haha, conversamos muito sobre a sua área de atuação: responsabilidade ambiental, sustentabilidade, organizações não governamentais... Eu estava junto aos seus colegas de trabalho, e depois de muito conversar, uma das suas colegas de trabalho diz pra mim: 'Engraçado... Você não parece nutricionista...'. E eu respondi 'Porque? Porque eu não fico só dizendo que uma barra de cereal tem 100 kcal?'. 'É...', ela respondeu.
E porque não seguir a área de serviço social, área de humanas... Todo mundo se pergunta.
Talvez porque a área de biológicas careça desse olhar integral, desse olhar humanístico.

Enfim, considerei a princípio o fato de não parecer uma pessoa oca um ponto positivo, fiquei realmente lisonjeada. Mas aí depois vem a bendita reflexão, dizendo que há algo de errado.
Entre as pessoas, já está instalada uma opinião (o tal do inconsciente coletivo) que já considera o nutricionista um profissional superficial, o que é uma questão lamentável. Afinal, lidamos com um tema muito complexo, o alimento, e temos por base uma formação generalista, que, a princípio, garantiria uma visão ampla de todos os temas que permeiam a relação homem-alimento-sociedade.
Mas aí você acha os textos de saúde pública chatos. Não sabe porque tem que estudar antropologia. Está fazendo nutrição porque teve preguiça pra estudar o suficiente pra fazer medicina. Ai, nutricionista, o que eu faço com você?

Esse tipo de coisa me desmotiva, porque eu vejo que as calouras que chegam só alimentam o ciclo de mediocridade que se instalou no curso de nutrição. E aí, acontece isso, a sumarização de conceitos empacotados. Pasteurizados. Os estudantes e profissionais estão pasteurizados, essa é a questão.

Mas aquela pequena chance de um em milhão, paradoxalmente, tem me movimentado a buscar aquilo que eu almejo. É possível, é real, eu posso chegar lá.

Aos mestres e profissionais, toda a minha admiração por terem conquistado um espaço no mercado e por serem um exemplo de compromisso e dedicação pela profissão. E aos amigos que lutam diariamente pelos sonhos tão iguais aos meus, amo vocês! E vamos à luta! 

domingo, 3 de julho de 2011

Somente belas e magras, por favor.

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Então.
Certas coisas no universo da nutrição me deixam muito desapontada. Às vezes, parece que estou no meio de um monte de cabeças vazias, defendendo uma ciência que nunca vai progredir e que nunca vai conquistar o status que merece, por ser constituída por profissionais que não querem estudar e não querem lutar por um espaço melhor.
Enfim.
Nestes últimos dias, ocorreu uma questão absurda no nosso mundinho. Foi aberta uma seleção de nutricionistas para trabalhar em um congresso da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN), em Fortaleza, e o anúncio pedia que as interessadas mandassem fotos e que tivessem manequim 36 ou 38.
A situação já foi melhor detalhada aqui no blog da nutricionista Neide Rego.
Pra que currículo? Pra que competência?
Além dessa situação ser ato explicitamente preconceituoso, ela emerge do lugar em que necessariamente não deveria existir. Quer dizer, isso vai contra a tudo o que defendemos. Nós defendemos que as pessoas tenham uma vida saudável, mas nunca escravizamos as pessoas à padrões de beleza. A números ideais. Defendemos qualidade de vida, e não pressões midiáticas.
Se ainda não ficou claro, gostaria de declarar explicitamente o meu repúdio à atitude da SBAN. É tão vergonhoso, que é melhor nem comentar mais nada.
Na verdade, há sim o que se comentar.
Quando você pensa que a sua profissão é constituída somente por copioterapeutas e profissionais que se tornaram nutricionistas porque tiveram preguiça de estudar o suficiente pra realizarem seu sonho de serem médicos... vemos que algumas pessoas não dormem no ponto.
E um dos focos de reação que está se estruturando é o Centro Acadêmico Emílio Ribas, da USP, que já vem articulando outras resistências, tais como a discussão sobre a regulamentação da propaganda de alimentos, especialmente no meio acadêmico. Eles escreveram uma carta manifesto falando a respeito do ocorrido, e aproveitaram para comentar do tão polêmico aspecto do apoio e patrocínio de indústrias de alimentos em eventos de nutrição.
Veja a carta aqui.
Uma decepção profunda... Mas com aquela impressão de que há uma luz no fim do túnel.

domingo, 24 de abril de 2011

"O SUS que não se vê", pela Revista Radis

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Na terça feira passada, estava na Fiocruz pra acompanhar um evento de Integração dos Estagiários. É, estou fazendo estágio no Instituto Fernandes Figueira, e estou muito feliz com as experiências que esta oportunidade está me proporcionando, de verdade.
O evento era no Auditório do Museu da Vida, mas como avistei a Biblioteca ao longe, resolvi dar uma fuçada por lá. Adoro bibliotecas, com aqueles corredores repletos de livros de todos os tipos e de todas as épocas. Confesso que me falta muita concentração para sentar e ler um livro mais técnico por longos períodos, mas eu me esforço. E só o ambiente me deixa feliz, com olhos arregalados pela curiosidade. 
Uma herança que tenho da minha época de estudante de Turismo (fiz curso técnico), e que acompanha a todo estudante que foi aluno da grande professora de museologia Vanilda Mandarino, é sair olhando todo e qualquer papelzinho que está a disposição. Na matéria dela, quem tinha mais folders e folhetos informativos, ganhava ponto extra, hehe. E numa dessas de olhar os papéis na recepção da biblioteca, peguei um bem útil, que vem com a definição de todas as bases de dados que encontramos na Bireme. E também estavam disponíveis exemplares da Radis, a revista da ENSP.
Nessa edição de número 104, ela se dedica a falar sobre alguns aspectos do SUS, pruncipalmente falando sobre o reconhecimento da população sobre as ações do SUS.
E se eu te perguntasse: você é usuário do SUS? 
Se você respondeu que não, porque tem plano de saúde, está redondamente enganado. 
Primeiro, porque você já tomou alguma vacina, e você não fez isso num consultório que aceita o seu plano. Foi no posto de saúde mesmo. E, mais que isso, o SUS está infiltrado em diversas ações de saúde que fazem parte do nosso dia a dia. 
Porém, geralmente quando pensamos em SUS, vemos logo pessoas em filas, morrendo por falta de atendimento. E quando há atendimento, ele é precário. Será que é assim mesmo?
Olha, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o SUS sofreu uma avaliação melhor das pessoas que o usam, do que pelas pessoas que declararam não usar esse serviço. 
Entre os que declararam ter tido alguma experiência com o SUS, 30,4% consideraram os serviços bons ou muito bons, enquanto, entre os que informaram nunca ter usado o SUS, o índice dos que avaliam os serviços como bons ou muito bons, cai para 19,2%. Por outro lado, os que consideram o SUS ruim ou muito ruim são em maior número entre os que informara nunca ter usado (34,3%) o sistema, do que entre os que disseram ter usado (27,6%).
Existem duas coisas interligadas nessa questão: a imprensa reforça a idéia de que, se você depender do SUS, você vai morrer na porta do hospital. Logo, ela te incentiva a procurar os serviços de saúde privados, que vão te dar mais 'segurança'. Até porque essas empresas, ganhando rios de dinheiro, fazem seus anúncios nas redes de comunicação, é tudo uma relação de troca. E com isso, cria-se o status do indivíduo que, felizmente, não precisa do SUS. É por isso que quem não usa o serviço é que o critica mais. 
A jornalista Conceição Lemes, especializada em Saúde, dá sua opinião pela ótica do profissional jornalista:
(...) Ela também considera que esta disseminada a cultura de que SUS é 'coisa de pobre' , o que faz com que o jornalista não se sinta parte do sistema  - "A própria mídia não tem interesse em que o SUS dê certo" - e com que as pessoas falem mal, sem conhecê-lo. Ela identifica que não se divulga quando usuários abastados recorrem ao SUS para procedimentos caros, não pagos por seus planos privados. "Os que se servem deste expediente têm vergonha".
É difícil o plano de saúde cobrir quimioterapia, transplantes e medicamentos pra HIV, não?
Pois é, e esses procedimentos não caem do céu. 
Temos muito o que comemorar pelo nossos sistema de saúde. Ele significa a concretização de um caminho democrático, que busca uma sociedade mais justa. Ele só precisa ser aprimorado, e reforçado em áreas ainda vulneráveis.
A Radis veio dedicada quase que exclusivamente a esse assunto, trazendo vários quadros explicativos sobre o assunto, então vou dar uma resumida:
- A cobertura vacinal do Brasil é uma referência mundial. A cada ano, vemos mais vacinas serem incorporadas ao Calendário Vacinal, proporcionando mais proteção aos grupos de risco, em especial as crianças. A varíola e a poliomelite foram erradicadas, e está a caminho o certificado de erradicação do sarampo. A rubéola foi a protagonista da maior campanha de vacinação realizada no Brasil, em 2008, obtendo cobertura vacinal de 96,5%.
- O tratamento da Aids é garantido pelo SUS gratuitamente, promovendo uma melhor qualidade de vida aos indivíduos HIV positivo.
- Nossos laboratórios públicos produzem 80% das vacinas e 30% dos medicamentos que são utilizados no SUS, significando a economia de recursos, um estímulo à produção científica e a formação de trabalhadores qualificados no país.
- A Vigilância Sanitária está presente em diversos aspectos de nossa vida, na fiscalização de alimentos, medicamentos, cosméticos, estabelecimentos comerciais... Uma lista infinita. E vale dizer que o trabalho da vigilância nos municípios precisa da sua ajuda. Se você ver algo errado, ligue pro serviço de vigilância da sua cidade e denuncie! A participação popular é mais que importante pra melhora dos serviços.
- Quanto aos transplantes, tenho que citar um trecho do texto:
Quando o "Fantástico" anunciou em abril de 2009, a estréia da série, Transplante, o dom da vida, apresentada pelo médico Dráuzio Varella, a produção do programa dominical da TV Globo informou em seu blog, que havial 50 mil brasileiros na fila de espera por um transplante. "Muitos morrerão enquanto aguardam. O objetivo dessa série é colaborar para que a fila ande mais depressa", alertava um dos textos de apresentação do quadro.
Apesar do alerta de que mesmo com um "bom seguro saúde e um patrimônio sólido" ninguém seria privilegiado, e da informação de que o sistema era informatizado "e fiscalizado pelos próprios pacientes que aguardam", os textos publicados no blog deixavam de mencionar o SUS e creditavam o aumento do número de doadores de órgãos à veiculação da série televisisva.
Na verdade, o que o Fantástico não divulgou - assim como a maioria das matérias publicadas sobre o assunto - é que o SUS mantém o Sistema Nacional de Transplantes, considerado um dos maiores programas públicos de transplantes de órgãos e tecidos do mundo. São 548 estabelecimentos de saúde e 1376 equipes médicas autorizadas a realizar transplantes em 25 estados do país.
 Nós que convivemos com o SUS de forma mais permanente, sabemos que ele sim funciona. E oferece bons serviços para a população. Não compare, por exemplo, uma assistência pré-natal feita pelo SUS e pelo plano de saúde, são procedimentos totalmente diferentes. Na minha opinião, na assistência privada, mal há procedimentos em si...
O que acontece é que a eficácia do SUS, pelo menos analisando o Grande Rio esbarra em uma complicação política grave. Nos últimos anos, vimos dezenas de municípios novos brotando por aí, somente para que os políticos possam ganhar um orçamento próprio. E aí, surgem cidades que mal tem um posto de saúde, e às vezes nem isso tem. Isso gera uma superlotação nos serviços da capital que é insustentável, porque a contribuição de impostos de uma pessoa que mora em Queimados, fica em Queimados. mas se ela vai no Hospital Salgado Filho, por exemplo, os impostos que pagam o seu funcionamento são dos contribuintes cariocas. Não há como sustentarmos a falta de estrutura alheia. Com isso, nenhuma das partes acaba sendo atendida com eficiência e integralidade.
É importante dizer que, nós últimos vinte anos, conquistamos muitas coisas, em especial na questão de estado nutricional da nossa população. Temos, porém, que estar vigilantes, porque as curvas de crescimento das nossas crianças estão felizmente bem alinhadas ao padrão estabelecido pela OMS, mas quando falamos de evolução de peso, nós já estamos ficando acima do normal. Ou seja, o excesso de peso nas crianças já está ficando evidente. São nesses pontos que nossos sistema de saúde tem que se aprimorar e se qualificar.
As atividades pontuais e básicas, como a imunização, são fundamentais e sempre terão sua importância, mas é hora de qualificar e aprimorar a nossa assistência. Nosso olhar deve ser mais criterioso, e devemos estar mais atentos a questões que podem estar determinando um melhor ou pior estado de saúde da população. Temos que fortalecer a educação em saúde, e dar instrumentos para que os usuários zelem por sua saúde.
Ainda falta muito para chegarmos no nosso ideal, mas não podemos desmerecer as conquistas. Elas são o estímulo para que possamos continuar. E essa luta tem que partir dos profissionais de saúde, que tendem a se acomodar pelas dificuldades e problemas de estrutura e de gestão.
Se você escolheu se dedicar à saúde, saiba que não lhe é permitido desistir!

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Não tenho nem título para um assunto desses.

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Desde a semana passada, nas minhas andanças pelos textos do processor Carlos Monteiro sobre a questão dos alimentos ultraprocessados, descobri um texto em seu blog que me deixou, no mínimo, estarrecida. A situação era tão absurda, que eu nem quis comentar naquele momento. Preferi dedicar um momento só a isso.
Como eu não sou uma expert em inglês, vou colar alguns trechos, mas o texto completo você encontra aqui. Vou falar sobre o segundo texto da página: "'Fortified' Coke, Pepsi, for starving Africans??"

The one and only reliable and sustainable way to reduce undernutrition and where possible to eliminate hunger and starvation, is to give the communities and the countries most affected, the ability to look after themselves. One big first step will be to eliminate foreign debt burdens, most of all of African countries. ‘Band aid’ approaches, including the use of food ‘fortification’ and supplementation, should work in the short-term, but are liable to erode and even destroy the ability of impoverished governments and communities to become food- secure and self-sufficient.
Não há nem o que complementar, pois ele já disse tudo. Não adianta querer resolver o problema da miséria com remendos sociais. E ponto.
Só que, nesse jogo, entram as transnacionais, que se instalam nesses países em desenvolvimento, tais como o nosso, e promovem a febre da suplementação e fortificação de todos os alimentos, inclusive os alimentos infantis. Aliás, eles são os preferidos... Vocês sabiam que tem um leite Ninho que vem escrito na embalagem que ele não é um leite em pó? Ou seja, já virou um produto híbrido, um mutante em forma de alimento que desce goela abaixo das crianças.
‘Premium’ UPPs usually cost more. They are usually promoted using prominent health claims. Such claims are particularly potent when they are addressed to the mothers and carers of children. The general strategy of the transnationals is steadily to replace traditional and established food systems, with ready-to-consume and ready-to-heat products, and in particular snacks. Products with a claimed high nutrient profile, often because ‘fortified’ with synthetic micronutrients, are part of this plan. The vision of the most diversified transnationals is to ‘teach the world to snack’ – a world in which meals and foods (and families) are replaced by UP snacks with their brand, purchased and consumed from the age of weaning and hen by individuals throughout life. Again, if you feel this is exaggerating, access the freely available on-line industry literature.   
No artigo sobre a nova classificação dos alimentos, Carlos Monteiro e seus colaboradores mostram as mudanças do perfil de consumo dos brasileiros ao longo das pesquisas de orçamento familiar já realizadas até a conclusão da pesquisa, ou seja, até a POF de 2002-2003. E as mudanças são mais significativas para esses alimentos ultra processados. Temos que lembrar que programas assistenciais do governo, tais como a unificação dos auxílios no cartão do Bolsa Família, aumentaram o poder de compra dos brasileiros de baixa renda. Porém, isso não determinou uma maior qualidade nos produtos comprados com essa renda adicional. Aí mora o problema. As crianças não são mais desnutridas lá no z score da tabela, mas são mal nutridas com danoninho, Coca Cola e Trakinas.
Por falar em Coca Cola, o texto do artigo deixa bem claro qual é o tema.
O pior é que não é brincadeira. Dois pesquisadores da Universidade da Califórnia propuseram a fortificação de refrigerantes tendo em vista atender a uma necessidade nutricional de crianças desnutridas na África Sub Saariana.


A pergunta é: O que?
Olha, qualquer proposta de fortificação e suplementação de alimentos tem um teor de polêmica, tais como a questão da multimistura e do que aconteceu no Brasil há anos atrás com a doação de leite para grupos em risco nutricional. Mas fortificar um refrigerante?
É sabido que o refrigerante tem valor nutricional nulo, além de ser repleto de fatores que vão em contra a qualquer proposta de torná-lo um alimento recomendável para crianças.
Os 'pesquisadores' justificam sua opinião por conta do baixo custo do refrigerante na África, que custa cerca de 20 a 30 centavos:
The arguments in support of this bizarre proposal are so fragile that commenting on them in detail is perhaps not necessary. One point will do. The case of the West Coast academics depends on their assertion that soft drinks and other bottled products are affordable by African people living in poverty and misery. To ‘prove’ this, they say: ‘Costs of Coca-Cola products are kept low in African markets (~20 - ~30 cents), less than a cost of a newspaper, so that they are affordable for the population’. But people existing virtually without money, or on the equivalent of a US dollar a day or less, do not buy newspapers. Their needs are more fundamental. 
Eu acho que eu nunca vi nada tão bizarro na vida. Quer dizer que podemos acabar com o problema da subnutrição com um alimento de 30 centavos fortificado por uma indústria que esmaga os direitos ambientais das localidades onde se instala e estabelece exploração de recursos e de trabalho de maneira injusta? A Coca Cola e a Pepsi vão salvar a África da fome?
E isso é muito grave:
Worse, if ‘fortified’ branded products made by transnational companies with massive marketing muscle are promoted as helping to save the lives of small children, impoverished parents might indeed be induced to drive their families closer to destitution by making a habit of buying such products. This would be more likely if industry propaganda included supportive statements from pediatric health professionals. Worse yet, if any branded product gains the reputation of being a life-saver, families are liable to remain loyal to the brand, and to any or all available ‘fast’ and ‘junk’ snack and other fatty, sugary or salty ultra-processed products made by the company owning the brand, life-long. The result would be an ‘extra help’ to the obesity pandemic, with all that implies, including intolerable burdens on health services for treatment of serious obesity-related chronic diseases. 
Ou seja, se essas empresas de refrigerantes vem a fazer uma atrocidade dessas, eles tês a melhor campanha de marketing de todos os tempos, pois seriam responsáveis por salvar a vida de milhares de criancinhas desnutridas da África. Só perde para a nova campanha da Coca Cola.  
Isso parece um pouco surreal à primeira vista, mas pode ter certeza que não é. Vivemos numa sociedade em que o imediatismo é o que manda nas relações humanas. Uma solução rápida e instantânea vale muito mais do que um processo sólido de construção de conhecimento. E Paulo Freire que vá plantar batatas...
É claro que a vontade política tem tudo a ver com esse direcionamento a algo que seja efetivo e sustentável. Algo que promova um desenvolvimento digno e duradouro das comunidades por esse mundo afora. Mas as pequenas coisas que podemos fazer ao nível individual, de modo contínuo, ajudam a dizer para quem está no poder que não concordamos com isso, e que uma hora, esse caminho vai ter que mudar.
What the impoverished populations of Africa, Asia and Latin America need, are the means with which to lead a decent life. These include secure local food systems and supplies, access to safe water and adequate sanitation, decently resourced primary health care services, ability to produce and prepare meals from immediate and local resources, universal primary education, and empowered mothers and other caretakers. Substantial reduction of child undernutrition can be achieved in a short period of time with improved income distribution, population and community self-determination, and public investments in public goods such as education, health, social security, water supplies and sanitation (5-7). The persistence of undernutrition is a sure sign of a ‘world order’ that has gone wrong.
Vamos pensar sobre o que consumimos e o que apoiamos. faço esse convite de reflexão especialmente aos profissionais nutricionistas que, pelas minhas lentes embaçadas e de 1,5 de miopia, demonstram-se tão alienadas a assuntos que estão entre suas responsabilidades.
Por falar nisso, nada mais oportuno do que divulgar esse belo evento que será promovido pelo Centro Acadêmico Emílio Ribas da Faculdade Nutrição da USP, sobre a relação entre a indústria alimentícia e as instituições de ensino. Todo estudante de nutrição tem ao menos um exemplinho na sua universidade. Eu tenho uns quinze, hahaha! O mais legal do evento é que ele surgiu por uma mobilização justa dos alunos contra a chuva de propagandistas que davam palestras em sua faculdade. Um grande exemplo de mobilização estudantil numa faculdade de Nutrição. Centro Acadêmico não é só pra fazer choppada. Enfim.

Se você é de São Paulo, divulgue, compareça! 

Data: 5 de maio
Horário: 14h – 17h
Local: Faculdade de Saúde Pública – Auditório João Yunes


Coordenação da mesa: Beatriz Mei (CAER)
Carlos Augusto Monteiro (FSP) - Obesidade x Publicidade de alimentos
Renata Alves Monteiro (UnB e OPSAN) - Regulação da publicidade, DHAA e SAN
Ana Júlia Colameo (IBFAN) - Indústrias, profissionais da saúde e ética
Marina Ferreira Rea (IBFAN) - Evolução das estratégias adotadas no Brasil frente à pressão das indústrias
Fabiana Alves do Nascimento (CAER) – Relação entre indústrias de alimentos e cursos de Nutrição
O evento é gratuito, será transmitido ao vivo via internet e disponibilizado no site www.iptv.usp.br
Não é necessário realizar inscrição prévia.
Para qualquer esclarecimento, entre em contato com:
caemilioribas@yahoo.com.br



sábado, 16 de abril de 2011

O efeito-abelha e a ponta do iceberg

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Estava ansiosa por postar no blog, mas ainda não tinha achado o assunto adequado pra isso.
Hoje foi um dia bem leve. Fiz uma coisa que queria fazer há muito tempo: organizar uma pastinha com recomendações de energia, proteínas, vitaminas, minerais, rotinas do serviço de nutrição... Acho que, quando a gente começa a coletar esse material, significa que somos mesmo nutricionistas! Ainda tô no começo, mas já achei coisas bem legais.
E nesse meio, parei um tempo para procurar um texto do professor Carlos Monteiro. Na verdade, tudo começou quando peguei esse artigo aqui pra ler. Ele fala sobre uma nova classificação dos alimentos, quanto ao nível de processamento aos quais os alimentos são submetidos. Está provado que esses alimentos ultra-processados cada vez mais fazem parte da alimentação dos brasileiros, e a ocorrência das doenças crônicas não transmissíveis só faz aumentar (será coincidência?). Esse artigo por si só já merecia um post exclusivo...
Mas enfim, nessas idas e vindas de sites e etc, descobri esse texto no site da World Public Health Nutrition Association (clique aqui). Como está em inglês, não vou colá-lo aqui.
Ele fala sobre a inexplicável morte de abelhas que vem acontecendo no mundo todo, em larga escala. Em média, há uma redução de 30% na população mundial de abelhas, e isso só se agrava. No Brasil não é diferente: esse assunto foi tema de uma reportagem há meses atrás no Jornal Hoje. Esse assunto já apareceu até na famosa série CSI, na qual o chefe Gil Grissom, um entomologista, inicia seu próprio experimento paralelo para observar as abelhas e tentar chegar a alguma conclusão sobre o enigma.
Bom, e o que as abelhas tem de tão importantes que estão chamando a atenção de toda uma comunidade científica?
Não esqueça, querido leitor, daquilo que você aprendeu no primário, na sua aula de ciências. Uma simples palavra: polinização. O texto diz que, de cem espécies colhidas no mundo, de onde vem 90% do que comemos, 70%  dependem da polinização das abelhas. A vida das abelhas em risco é também nossa vida em risco.
E o que pode estar influenciando na morte repentina dessas pequenas criaturas? Ora, a mesma coisa que me fez ficar a semana toda com a garganta irritada e acessos de tosse seca: a poluição.
A quantidade exorbitante de herbicidas e pesticidas mata essas e muitas outras espécies, gerando um completo desequilíbrio ambiental. A própria poluição diminui a capacidade de vôo das abelhas, tornando-as desorientadas e dificultando a chegada às plantas. Além disso, toda a questão climática influencia nas estações do ano, gerando uma bagunça, literalmente, nos períodos frios e os próprios para o florescer das plantas. Até  os campos eletromagnéticos podem modificar o comportamento das abelhas.
Achim Sneiter diz que foi passada aos seres humanos a idéia de que, um dia, seríamos evoluídos o bastante para não precisarmos da natureza. E como esse pensamento de evolução e progresso a qualquer custo foi equivocado...

As abelhas sofrem a olhos vistos hoje. Mas nós também estamos sofrendo.
Sofremos de tantas formas e de maneira tão crônica que acabamos nos acostumando a viver desse jeito indecente e inaceitável. E isso vai se manifestando nesse estilo de vida solitário, em que tudo é banal.
Vamos olhar com um pouco mais de carinho para o drama das abelhas? Não se esqueça, a abelha de hoje é o ser humano de amanhã. Não vivemos em mundos paralelos, estamos juntos no mesmo caminho. O pesticida que matou a abelha é o mesmo que está na comida que você come todos os dias, e que te mata aos poucos. A poluição que atordoa a abelha e a faz voar menos é a mesma que penetra o seu pulmão e que te dá esse cansaço sem fim.
Para terminar, coloco um trecho especial do texto:
What are the bees telling us? In days gone by, miners kept caged canaries nearby in the pits as they worked. If the canaries died, the miners knew that levels of poisonous gases were dangerous, sounded the alarm, and got out of the pit. The silence of the bees may be such a warning sign. But the equivalent of the pit is the planet.  
O que as abelhas estão tentando lhe dizer?

domingo, 20 de março de 2011

O drama da monografia

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Depois de tanto tempo sem postar, estava dando uma lida no que tinha escrito até aqui, durante essas poucas postagens. No entanto, gostei muito do que caminho que as coisas estão tomando por aqui, e de certa forma, estão acompanhando o ritmo da minha vida acadêmica.
Como tive alguns problemas de quase perder algumas oportunidades durante esse tempo em que não escrevi por aqui, só comentarei as coisas que estão realmente concretizadas. Para prevenir mais imprevistos.
Esse ano não vai ser nada fácil. Há muitas etapas a serem vencidas até dezembro, e que envolvem a finalização do curso. Não sei se conseguirei terminar a faculdade esse ano, por algumas questões burocráticas... O que honestamente me deu uma desanimada. Mas, tudo bem, escolhas têm sempre consequências.
Acho que o grande dilema desse ano é a bendita monografia... Para a maioria dos estudantes, a monografia constitui-se como o grande desespero de toda a universidade. Estamos acostumados a fazer trabalhos encomendados pelo professor, sobre assuntos que gostamos e assuntos que não gostamos. Apresentamos, entregamos, recebemos nota, fim da história. Agora, a monografia inverte a ordem das coisas, pois a idéia do que fazer parte de você. É uma reversal russa! E é uma decisão que determina o teu gosto, a tua área de afinidade e de atuação. É muita responsabilidade concentrada em um único trabalho.
Por isso, entramos em paranóia. Até porque não paramos um semestre inteiro somente para nos dedicar a tal monografia. Temos que elaborá-la num momento acadêmico complicado, em que fazemos estágios, ou concluímos algumas matérias. Por exemplo, eu estou com dois estágios, uma monitoria e uma iniciação científica se ela deslanchar. Ainda não estou no ritmo realmente frenético, mas a correria de documentos e contratos para lá e para cá já me tirou um pouco das energias.
E no meio disso tudo, tem que haver o tempo, a serenidade e a paciência de parar e pensar num tema. E transformá-lo num projeto de pesquisa.
Difícil, mas não impossível!
Estava procurando uns livros novos sobre metodologia científica para a monitoria, e encontrei um bem interessante. Ele se chama "Monografia ao alcance de todos", e acaba falando de maneira bem informal sobre como escolher o seu tema, pensar no problema que se quer estudar, o que você pretende encontrar... Até as regrinhas mais básicas de formatação, conteúdo e citações. Você pode encontrá-lo aqui.
Fica registrada a minha dica, e o meu desespero latente!!!