Depois de longos seis meses, tenho um pouco de tempo para ficar em frente a meu computador para compartilhar comigo mesma, e para os que queiram ler, a experiência de ter trabalhado num posto de saúde da Prefeitura do Rio.
Foram muitos obstáculos, muitos entraves... para que chegue aqui nesse dia para contar essa história.
O concurso para Acadêmico Bolsista andava instável. Há dois anos ele não acontecia, logo foi uma surpresa quando o mesmo apareceu em pleno meio do ano. Tudo foi muito inesperado. Inclusive foi bem inesperado ter que mudar toda a minha vida acadêmica em pleno fim de período para seguir com o estágio. Em pleno 1º de junho, tinha que criar 20 horas na minha grade de horários com 6 matérias! Não sei mais nem como eu consegui.
Foi nesse período conturbado, juntando Copa do Mundo, e mais outros compromissos pessoais, que fui me ambientando e conhecendo o atendimento individualizado na nutrição e todo o funcionamento de um posto de saúde de grande porte. Foi num dia 25 de junho que atendi minha primeira paciente. Mas disso falarei depois.
Passei minhas férias em grande estilo, indo ao estágio diariamente, e aprendendo, claro... Mas hoje com dores horrorosas na coluna e um cansaço sem precedentes, tenho que admitir que essas férias me fizeram uma grande falta.
Nesses meses de ambulatório a gente aprende coisas que, enclausurada em uma sala de aula, nunca vamos. Uma delas, que é fundamental é: decifrar letra de médico! Esse tipo de coisa não tem dinheiro que pague, é tão essencial, hahahahaha! Além de outras coisas que os pacientes nos trazem, e que temos que aprender a interpretar se aquilo que o usuário te traz no seu relato vai lhe trazer algum bem ou mal.
É muito diferente ler os sinais e sintomas clínicos de certa doença num slide e ouvir o relato do usuário. Muito diferente mesmo. E sei que ainda tenho que me aprimorar nisso, e muito.
Numa experiência como essas, surgem muitos pontos de discussão, que são fundamentais pra que a gente possa pensar numa saúde melhor para todos os brasileiros.
Desculpem-me, mas sem educação, não há saúde. É muito difícil explicar às pessoas que escolhas são melhores para sua saúde, se eles não conseguem ler bem, interpretar o que estão lendo. É um desafio diário. Ainda mais na alimentação. É difícil explicar às pessoas que, de uma forma ou de outra, refrigerante mesmo sendo doce tem sal. E que o biscoito de maisena também tem sal. E por aí vai.
E então, no meio de tudo isso, descobri que uma das coisas que mais gosto de fazer são as ações educativas. É uma chance muito especial de pelo menos tentar despertar o interesse das pessoas por assuntos muito importantes na alimentação, e que influenciam diretamente na sua saúde.
E como é difícil planejar ações educativas que não sejam monótonas e que desconsiderem o público alvo. E olha que, ao longo dessas várias que eu fiz, várias tiveram que ser feitas em menos de uma semana. Acho que a maioria delas... Mas saíram, e o mais importante, eles gostaram.
A experiência em posto de saúde nos diz o quanto é importante o investimento em atenção básica, e o quanto ela realmente desafoga hospitais de alta complexidade. Mas isso leva tempo, não é de uma hora para outra. Além disso, no Rio de Janeiro estamos vivendo um momento de profundas transformações empreendidas pelo prefeito Eduardo Paes. na saúde, isso vem se demonstrando através da construção e implantação de Clínicas da Família, que vão ser espécies de bases para as equipes de Saúde da Família. Claro que queremos rapidez, pois afinal o povo tem pressa de saúde. No entanto, isso também exige cuidado. No nosso caso específico, somos um Centro Municipal de Saúde, um bom e velho posto de saúde, que também vai abrigar a Clínica da Família e, portanto, equipes de Saúde da Família. E a aceitação não está sendo muito fácil, pois há um problema de remanejamento de espaço, e de responsabilidades que nos deixa confusos. E o que parece é que, quem está ali desde sempre parece que vai ser prejudicado pelo "novo modelo de saúde". Isso não poderia ter acontecido, pois assim a adesão ao novo modelo fica comprometida. E muito.
A Prefeitura vem fazendo o seu trabalho, claro, isso não podemos negar. Mas se a articulação não é feita com as antigas lideranças, isso tudo vai por água abaixo. Bom isso é só uma observação de uma mera estagiária....
A mera estagiária aqui também acredita que esse trabalho que parece ser simples é fundamental para que possamos transformar a vida das pessoas pra melhor. Foi um privilégio sem tamanho poder vivenciar tantas experiências. Coisas que me engrandeceram como pessoa e como profissional. Foi doloroso me acostumar com a idéia de que ia acabar no último mês, mesmo que na última semana eu realmente entendesse que eu precisava dessa parada. Foi o período certo, na hora certa, com as pessoas certas.
Agradeço muito por esta oportunidade de poder aprender e tentar ensinar.
sábado, 11 de dezembro de 2010
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