sábado, 26 de janeiro de 2013

Eu li: publicações da Nutrição da UFRJ

0 comentários
Estou tendo que ler alguns livros para um processo seletivo, e duas das publicações dessa bibliografia serão comentadas aqui.


Avaliação Nutricional do Paciente Hospitalizado: Uma Abordagem Teórico-Prática é um bom livro. Explicita pontos importantes da avaliação nutricional, e lê-lo me proporcionou uma boa revisão daquela matéria que cursei no longínquo quinto período. Apresenta um encarte colorido que mostra algumas técnicas da avaliação nutricional, além de aspectos do exame físico.
Bom, aí tenho que comentar que tanto a avaliação nutricional quanto o exame físico só podem ser realmente aprendidos na prática. Infelizmente, este é o calcanhar de Aquiles da Nutrição. Não praticamos estes conhecimentos. Vamos para a prática clínica num mini estágio durante algumas semanas e só. Isso é insuficiente, se observarmos que a Medicina e a Enfermagem estão presentes nos seus locais de inserção desde os primeiros períodos. É lógico que esta inserção na prática clínica na Nutrição é muito mais complicada, por conta da multiplicidade de áreas de atuação que temos, diferente das referidas carreiras.
A avaliação antropométrica é bem descrita, mas fico pensando se estes livros que se propõem a falar de paciente hospitalizado estão mesmo pensando na realidade dos pacientes hospitalizados. Os autores (não só deste livro) se esquecem da viabilidade de algumas dessas técnicas em pacientes idosos, acamados e, primordialmente, pacientes críticos. Ora, pode-se fazer dobras cutâneas em pacientes em cuidados intensivos, mas será que este dado poderá ser realmente considerado, visto que um ponto primordial da técnica está sendo pulado (o paciente deve ficar de pé)? Tenho muitas reservas e dúvidas com relação à avaliação nutricional nestes pacientes multicomplicados, e nenhum autor conseguiu ainda expor algum elemento que pudesse me auxiliar nesta questão.
O melhor capítulo é "Exames laboratoriais empregados na avaliação nutricional", uma discussão dos principais exames usados para avaliar estado nutricional dos macronutrientes e micronutrientes, bem como hemograma, eletrólitos, função hepática e renal, estado imunológico e equilíbrio ácido-básico.


O livro "Dietoterapia: Uma abordagem prática" traz, em dez capítulos, algumas enfermidades em que a terapia nutricional pode ser terapia adjuvante para o tratamento do paciente. Dentro de cada capítulo, são colocados casos clínicos em que se exploram as várias formas de manifestação das doenças, e suas implicações na nutrição do paciente. Considera o exame físico e avaliação antropométrica e bioquímica do paciente, determinando a conduta nutricional estabelecida em cada caso.
Agora sim, vamos falar do livro.
Acredito que, depois que estudamos pra concurso público, ficamos 'cri cris' com referências bibliográficas. E é importante saber quem está lhe recomendando que faça isso ou aquilo. E a impressão que o livro dá é que não há uma uniformidade na escolha daquelas referências. Esse seria um ponto muito importante de ser justificado a cada determinação de cálculo de VET, principalmente. Claro que, às vezes, dá para distinguir o porquê da escolha pelo quadro clínico apresentado pelo paciente, mas nem sempre. E acho que livros devem ser muito claros quanto às condutas defendidas.
No capítulo de doenças hipermetabólicas, a referência para determinação da taxa proteica de paciente adulto é baseada num  artigo que se refere a crianças queimadas. Esquisito, não? Fica parecendo que pegaram um dado da introdução do artigo, o que todo mundo sabe que é errado.
O livro é todo baseado em um esquema que se repete em todos os casos clínicos. A ideia é boa, mas acontece que, em alguns momentos, parece que houve um control c + control v da diagramação, mas na hora de colocar os dados daquele caso clínico, esqueceram de apagar os dados anteriores. Então, é uma chuva de formulas de Harris e Benedict com dois valores de TMB numa mesma fórmula.
Claro que um erro no livro não compromete seu objetivo, mas vários pequenos erros deixam a leitura pesada, porque a todo momento você volta para checar a informação.
Também há um desacordo entre o que é dieta normocalórica ou hipercalórica. Pacientes com determinação de VET com 30 kcal por kg de peso estão na conduta como dieta normocalórica. Ué, mas para mim 30 kcal por kg de peso era uma dieta hipercalórica!
A intenção do livro é boa, de mostrar um pouco de como seria para o profissional nutricionista determinar o diagnóstico nutricional e conduta em seus pacientes (por mais que este processo seja muito difícil de ser feito  na prática), mas ele é inevitavelmente confuso!
Boas leituras e bons estudos para todos!

domingo, 6 de janeiro de 2013

Coca Cola: as 123 calorias do marketing cafajeste

0 comentários


A nova propaganda da Coca Cola tem como objetivo desfazer a ideia de que o refrigerante faz mal. Ele pode ser incluído (pelo que parece, diariamente) na sua alimentação se você tiver uma vida equilibrada e associada a uma atividade física.
Claro, porque se todos tomarmos Coca Cola seremos tão bonitos como os modelos selecionados para as propagandas. E super cool.
Ora, caramba, então não sei porque tem tantas faculdades de nutrição no mundo... E muito mesmo porque eu fiz esta porcaria de faculdade, até porque se a questão é somar calorias, qualquer pessoa que saiba ler e somar pode fazer sua própria dieta. OU NÃO?
Este absurdo começou há meses atrás, quando a Coca Cola se uniu à AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA) e promoveu uma exposição chamada "Emagrece, Brasil!", localizada no Congresso Nacional, que tinha esta mesma intenção: mostrar, a partir da dieta de pontos (!), que você pode comer de tudo se contar as calorias.
Veja bem, eu pensei que a Anvisa existia justamente para nos salvaguardar de alimentos que fazem mal à nossa saúde. Foi realizado um abaixo assinado na forma de uma Moção de repúdio à esta atividade, que foi passado no Congresso Mundial de Nutrição, que aconteceu em abril do ano passado.
Eu não estou aqui para falar de malefícios do refrigerante, não é este meu objetivo. Mas se você gostaria de relembrá-los ou conhecê-los, aí vão alguns links:

Refrigerante: conheça os verdadeiros males da bebida
Pesquisas divulgadas nos EUA reacendem polêmica sobre malefícios dos refrigerantes
Blog da Carol Daemon: Mamãe não passou açúcar em mim! 

O que quero deixar claro é que refrigerante não é ALIMENTO, refrigerante é PRODUTO! O alimento tem nutrientes, fornece substratos para que você possa manter-se saudável e executando suas atividades habituais. O produto citado tem água com açúcar/adoçante e química. Não é necessário realizar pesquisas inúmeras para concluir que esta mistura não presta para nada. Aliás, presta para deixar este ou aquele conglomerado mais rico, às custas da sua saúde.

Gostaria de fazer um paralelo de um lixo químico com um lixo biológico.
Matt Groening criou uma animação chamada Futurama, na qual um pacato jovem chamado Fry acaba fazendo uma viagem no tempo e, na virada do ano de 2000, ele se transporta para o ano 3000.
No futuro, há uma bebida viciante chamada Slurm. Todos amam esta bebida, mas não se sabe exatamente do que é feita.


Fry ganha uma viagem para conhecer a fábrica de Slurm e quando chega lá, acaba descobrindo uma grande farsa: a bebida na verdade é unicamente composta das eliminações fecais de uma Rainha Slurm.


No entanto, como todos são viciados na bebida, principalmente Fry, continuam tomando Slurm felizes e contentes, mesmo depois de saber que estão bebendo fezes.

Moral da história: muito cuidado com o que você come.

Eu li: O direito fundamental à alimentação, de Mérces Nunes

0 comentários

Comprei este livro na Semana de Saúde Coletiva da UFRJ, porque o título me chamou à atenção. Dei uma folheada, e percebi que ele contextualizava o assunto com o conceito de saúde e sua operacionalização como sistema de saúde.
Depois é que fui perceber que este era um livro focado para o Biodireito (isto está escrito na capa, mas sou uma pessoa levemente distraída). E isso acabou sendo bastante produtivo para a discussão dos temas, pois é sempre estudar um tema sob diferentes enfoques.
É claro que nas partes em que são enfocados conceituações específicas do Direito eu dei uma viajada, mas algo pude entender.
Obviamente, o texto também percorre o conceito de segurança alimentar. Mais do que quantidade, refere-se à contínua disponibilidade de alimentos em quantidade e qualidade adequados. E sabemos muito bem que os alimentos que nos são ofertados incorrem em diversos problemas quanto à sua qualidade.
Mérces mostra o quanto a legislação tem falhas que proporcionam a liberação de produtos com qualidade ruim para o consumidor. Além disso, temos as contaminação químicas e biológicas nos processamentos tecnológicos, agrotóxicos e transgenia, uso de substâncias nocivas de forma deliberada pela indústria, erros em acondicionamento dos alimentos, dentre outros. A fiscalização dos alimentos em nosso país é precária.
Na seção do livro que se detém a explorar os nutrientes, alguns errinhos aparecem, como em nomes de vitaminas que estão equivocados, mas coisa muito pouca frente à discussão que o livro se propõe a suscitar.
Acredito que o livro traz duas importantes contribuições. A primeira delas diz respeito à sua discussão sobre o poder das empresas transnacionais, colocando o termo gigantes genéticos para descrevê-las. Citando a autora: "Essas empresas transnacionais têm por objetivo manipular, controlar, patentear e lucrar com a vida".
Isto é fundamental para se compreender o poder que envolve estas empresas e, primordialmente, o que envolve as parcerias público-privadas, tão comuns quanto repugnantes. Olha nas mãos de quem está a VIDA?
Prestem atenção, estas empresas não fazem mais só produtos. Elas desenvolvem pesquisas de melhoramento, manipulação de espécies para obtenção de características específicas nos alimentos, manipulando, também as descobertas científicas.
A segunda contribuição é uma proposta feita pela autora. Discute-se no livro a ineficiência de uma rotulagem nutricional padrão, afinal os termos técnicos tratados não são de fácil domínio pela população. Ela defende a colocação de advertências sobre os riscos à saúde implicados no consumo daquele alimento, semelhante ao que é feito na propaganda de cigarros. Ou seja, num alimento que possui gordura trans (sorvetes, biscoitos, panetones, biscoitos doces e salgados, entre outros) deveria trazer um anúncio assim: "consumir gordura trans causa gordura visceral (sic), aumentando o risco de infarto e derrame cerebral".
É claro que uma proposta dessas, neste momento em que estamos vivendo, não passaria de qualquer modo. O lobby das empresas não permitiria de maneira alguma. Mas não devemos perder a esperança, porque a advertência em cigarros e a restrição de sua publicidade também passou por este processo de ser impossível. E vejamos hoje. Agora, se esta restrição foi suficiente para reduzir efetivamente seu consumo.... Aí são outros quinhentos.
Gostaria também de fazer uma conexão entre temas similares. Em outro momento do texto, o livro deve que os alimentos com comprovação de efeitos deletérios à saúde sejam banidos da indústria. Esta colocação é pertinente, porém os estudos científicos muitas vezes não são conclusivos de maneira enfática, ou seja, um estudo somente não pode nortear uma decisão de tamanha amplitude. Do mesmo modo, não sabemos o quanto a indústria barra ou manipula as pesquisas que mostrariam a verdade de toda essa porcaria que a gente vem comendo. Logo, em seu texto a autora recomenda a retirada do mercado de produtos contendo aspartame e gordura trans.
E com relação à gordura trans, neste mês de dezembro foi colocado um artigo que trata justamente disto, desta retirada da gordura trans dos alimentos industrializados, tendo em vista que ela foi 'criada' pela indústria e mostrou malefícios importantes para a saúde cardiovascular, primordialmente. Clique aqui para ler o artigo na íntegra.
"O direito fundamental à alimentação" é uma boa aquisição para os que buscam refletir sobre alimentação de maneira ampla, buscando os elementos que mais contribuem para as nossas escolhas alimentares na atualidade.